"Tudo que é texto, conto, crônica, romance tem que ter despedida ou ao menos a saudade como personagem. Seja o principal, como um Fagundes dos sentimentos, ou mero coadjuvante nas entrelinhas de uma história."
Luciano Borba Steckert.
Esta primavera chuvosa e cinzenta me trás à memória o gosto de pitangas. Mas não eram quaisquer pitangas, logo nem todas são capazes de me aplacar o desejo. Até porque não há, realmente, tal desejo. É mais nostalgia, que o mal tempo alarga, de uma época que- clichê dos clichês-não volta mais.
As pitangas eram colhidas de um pequeno caponete, que já não existe, eram míudas porém roxas, de um que tinge os beiços e dedos e roupas e onde mais encostasse. Em época de chuva elas ficavam mais sumarentas e as folhas mais cheirosas, quebravamos-nas entre os dedos e as trituravam bem próximo ao nariz inalando o olor com ânsia, e com o excesso de ar aspirado vinha uma tonturinha boa.
As árvores eram baixas e retorcidas e nos prestavam para cortar forquilhas para os estilingues-minhas fundas com tão poucas marcas serviam apenas para pedradas em latas e palanques, raramente ia à caça. Havia ali bem próximo os pés de cacto, grandes e espinhudos, com suas flores de um vermelho de ferida e que se chegasse muy perto, tal qual pequenas frechas, seus espinhos seriam lançados.
Se a Urda tem seu tempo das tagerinas, o meu é feito de pitangas.