terça-feira, 29 de setembro de 2009

Pássaro Perdido

Aqui entre nosso pai e o Barroso


De uma feita, queria por força, que meu mano Marcelo viesse embora para Florianópolis comigo. Aqui era o melhor para ele, pensava eu.
Hoje vejo que, guardadas as devidas proporções, seria um pássaro perdido...

Pássaro Perdido
Os Posteiros

Bom cavalo, arreio bom
Pilcha simples, bem cuidada
E uma estampa de monarca
Mesmo tendo quase nada

Palha, fumo, carne gorda
Erva buena não faltava
Pro índio flor de campeiro
Serviço sempre sobrava

Veio a visão da cidade
E o pago se fez lembrança
Hoje amarga a dura lida
Num pôr-de-sol de esperança

Cativo ao brete das ruas
Como pássaro perdido
Negaceando alguma changa
Pro prato tão diminuído

Por isso, quando se encontra
No espelho fundo de si
Ouve o tempo debochando
"Bem-te-vi, já te vi bem
Já te vi bem, bem-te-vi"

Ouve o tempo debochando
"Bem-te-vi, já te vi bem
Já te vi bem, bem-te-vi"

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Tropa Amarga

A tropa se perde espargindo searas de angústia revolta
Palpita no seio da massa faminta este grito de horror
O rancho sucumbe na leva que passa socando misérias
E a muito secaram nas bocas exangues palavras de amor
Emigram dos campos as mãos calejadas do pobre rural
Na van esperança de abrirem caminhos além horizonte
Mas logo as estradas crivadas de cruzes demarcam fracassos
E a tropa se arrasta de sede de fome bem perto da fonte
No exôdo triste os olhares são preces num cantico barbáro
Perduram só lendas oriundas de glórias de há muito sepultas
Olhai esta tropa senhores da terra de nomes ilustres
E vejam o abismo cavado na senda por forças ocultas,
Penetrem no rancho senhores da terra de nomes ilustres
E vejam o pampa aquecendo tristezas num fogo de chão
E ouçam o ronco da cuia de mate gritando revolta
Da terra que amamos, do amor que é fartura do trigo que é pão
Encilhem seus pingos enquanto esta tropa cansada descansa
E sangrem depressa o boi Desengano que é muy caborteiro
Pois tropa de fome não teme aramado nem tem consciência,
e o boi Esperança rondando a tapera morreu no potreiro.
Dêem redeas ao progresso porque a tradição não tem medo do tempo
Se a honra perdura o Rio Grande está salvo sairá do abandono
E o grito do índio, ecoando no pago dirá novamente:
Esta terra tem dono, esta terra tem dono, esta terra tem dono.

Luiz Menezes.