tag:blogger.com,1999:blog-79850504576047880842024-03-12T19:58:16.585-03:00el toreroTourear, ou viver como expor-se;
expor a vida à louca foiceEl Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.comBlogger75125tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-82069602748998809742012-08-01T17:56:00.004-03:002012-08-01T17:56:47.358-03:00Assim me contam<h6 class="uiStreamMessage" data-ft="{"type":1,"tn":"K"}" style="font-weight: normal;">
<span style="font-size: small;"><span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">O moço bonito passava fardado pela frente da casa da Nilza ainda
menina, ela batia continência em brincadeira para ele. Do exécito trouxe
uma Terceira carimbada de detenções e umas quantas medalhas de tiro e
sinuca. Foi arrozeiro como dois de seus filhos ainda são. Me contava
umas histórias longuíssimas, recheada de pausas, almoçava elogiando a
comida '...arroz é bom, beterraba é bom! Vagem é bom! Carne boa!' E
quando dava aquela tacada largava um 'Conhecesse papudo!' que se eu
ficar quietinho apurando os ouvidos ainda consigo escutar.<br /> Vô Ernandi.<br /> <br /><div class="text_exposed_show">
Se gabava de ser 'dançador'. Na volta da Peroba era dos mais bonitos.
Tinha o pé chato. Bagunceiro e gozador era o cabeça de uma turma
arruaceira. Gostava de traíra frita e de cação ensopado. O cabelo era
bem branquinho, me explicava como se fazia açucar e melado, e do melado a
melhor cachaça. Era um bom assoviador, me chamava de Lucio, cantava
'Sabiá graúna aonde fizesse teu ninho/ na laranjeira mais alta bem
pertinho do caminho...' e meu peito ainda aperta de saudade.<br /> Eia, Seu Pedro.<br /> <br /> 'Me galopan en la sangre<br /> dos abuelos, si señor.<br /> Uno lleno de silencios<br /> y el otro, medio cantor.'</div>
</span></span></h6>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-9036084303207274062012-08-01T17:53:00.000-03:002012-08-01T17:55:26.933-03:00Diz que era assim...<h6 class="uiStreamMessage" data-ft="{"type":1,"tn":"K"}" style="font-weight: normal;">
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}">
<span style="font-size: small;">Ia cedo para a escola, destas reunidas, com duas ou mais turmas na
mesma sala, dar as suas aulas. Meio-dia levava o almoço para o marido no
canavial, enquanto ele almoçava ela atava os feixes de cana com
cipó-por não ter toda força ele terminava de apertar o laço- iam para o
engenho, ele passando a cana no moedor ela recolhendo os bagaços, depois
cachaça ou açucar, no outro dia e sempre, a mesma coisa. Se chama
Laide, teve seis filhos, um deles minha mãe.<br /><br /> Enquanto o marido
maneava as vacas ela tirava leite, dez, doze, quinze vacas ou mais-ele
quase não dava conta, diz ainda orgulhosa-era tratorista, quebrou o dedo
lidando com um trator Valmet 'queixo-duro', aprendeu com o pai
professor o alemão que ainda domina, pescou de molinete nos mares do sul
catarina. Jogava sinuca a ponto de vencer o marido e filhos, e ainda
tinha tempo para tachadas de doce e varas de salame. Dos oito filhos um é
meu pai. Seu nome é Nilza. </span><span style="font-size: small;"><br /><br /> Minhas avós são de carne e osso, mas de ferro e bronze me parecem...</span> </span></h6>
<h6 class="uiStreamMessage" data-ft="{"type":1,"tn":"K"}">
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}"><br /></span></h6>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-51786248594551402262011-07-07T20:01:00.001-03:002011-07-07T20:03:05.670-03:00Eu, sobrinho do DionísioSonhei hoje com meu avô. O Seu Pedro. Nada demais, ele estava doentinho, meio tristonho e tals. Acordei com saudade, claro, mas uma vez ele me abraçou no sonho e eu acordei ainda sentindo o cheiro de lã da sua blusa, o cheiro de velhinho que ele tinha e a seda que era o cabelinho todo branco dele. Então este de hoje foi tranquilo, como 'emoção', digamos.<br />
Porém, ah porém...lendo umas coisinhas hoje não é que caí em Dionísio, o do vinho, o colonão, o filho de Zeus mais boa praça!? E lembram-se como foi que Dionísio veio a este mundo(não era bem este, mas vá lá)? A mortal que Zeus havia papado morre quando ele aparece todo pimpão em sua carruagem, ele pega o bebê da barriga da finada e o costura dentro de sua própria coxa, completando assim sua gestação.<br />
E que tem o vô com esta história?<br />
Meu avô, Pedro Reginaldo de Borba é Zeus. <br />
Quer ver?<br />
Em primeiro ele sempre foi todo pimpão, dos mais bonitos das regiões da Peroba, ele mesmo se gabava disto, depôx só não se transmutou em Cisne, ou Ganso sei lá, pra pegar as meninas nas beiras de açude porquê não conseguiu, mas de resto fez de tudo. E tem a última e melhor que me fez chegar até aqui: Sua coxa direita tinha uma cicatriz enorme, quem o conheceu há de lembrar, de bem uns 30cm., e ele nunca explicou direito como apanhou aquele talho. Quer prova maior? Dali saiu Dionísio. É certo.<br />
<i>Dia 29 último, dia de São Pedro, ele faria 85 anos.</i>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-45519703032706952122011-06-09T16:58:00.001-03:002011-06-09T16:59:59.589-03:00Eu Não Quero Voltar SozinhoUm belíssimo curta que foi censurado no Acre por conta de..., bom todos sabem porquê. <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/1Wav5KjBHbI?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-5184451412778063882011-05-20T00:10:00.003-03:002011-05-20T00:19:36.795-03:00Tudo é Magnífico<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><object width="320" height="266" class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://2.gvt0.com/vi/_ywPxbyPoWI/0.jpg"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/_ywPxbyPoWI&fs=1&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><embed width="320" height="266" src="http://www.youtube.com/v/_ywPxbyPoWI&fs=1&source=uds" type="application/x-shockwave-flash"></embed></object></div>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-40630726400879948442011-02-19T20:54:00.000-02:002011-02-19T20:54:24.234-02:00Come Julinha, come...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRBuQrO7KzrQOkPokUat6lVurzWRplssXunqFh3CyO_tFup_70IBbNFg_DuXTmkNcXO9-gRN-8pY9_Uzi4ArSr044u6XBcRyibgYr0FJzgmAxrG4sld2cgUD29fSW5UQb0eE6cq1m90lBG/s1600/_MG_0341.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRBuQrO7KzrQOkPokUat6lVurzWRplssXunqFh3CyO_tFup_70IBbNFg_DuXTmkNcXO9-gRN-8pY9_Uzi4ArSr044u6XBcRyibgYr0FJzgmAxrG4sld2cgUD29fSW5UQb0eE6cq1m90lBG/s320/_MG_0341.JPG" width="320" /></a></div><i>...Danoninho a marota comia, e se ria toda ainda por cima.</i>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-22828492853829322362011-01-10T21:16:00.001-02:002011-01-10T21:20:10.124-02:00Cartografia Afetiva"Daquela terra, daquela argila..."<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEFWHfAMtbbU1AAk7XB28JAqEpHT-6Uo2RZwgm8-Pjr5ETbFcaZLDhS_JFEMpplO-2uMK_TOVmz8_KsnBH6M4MwEAKtR-OEUULk0SXxUB-VRpJdNYTOGG6OQmCoWnwrRaGXe9EUBOnSH1X/s1600/mapa_santa_catarina_1939___oscar_schmidt__2___2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEFWHfAMtbbU1AAk7XB28JAqEpHT-6Uo2RZwgm8-Pjr5ETbFcaZLDhS_JFEMpplO-2uMK_TOVmz8_KsnBH6M4MwEAKtR-OEUULk0SXxUB-VRpJdNYTOGG6OQmCoWnwrRaGXe9EUBOnSH1X/s1600/mapa_santa_catarina_1939___oscar_schmidt__2___2.jpg" /></a></div><br />
Nascido entre a lagoa, hoje bem dizer morta, e o mar, cada dia maior, seu norte oscilava entre estas duas águas e a poeira da estrada.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYzvXg3e0cL0Q-rN61ZMwdALMAib-lFAVUO5EnhgRnOotXBb7CkQhoEvqMY0QPi25uwerjA9tVhJNDK-U96t2FlDpGth4O8AanYl8kuPyQWCv88dt9ysAmjgAFBrATb-qrhtsBdoe7XaZJ/s1600/5985498.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYzvXg3e0cL0Q-rN61ZMwdALMAib-lFAVUO5EnhgRnOotXBb7CkQhoEvqMY0QPi25uwerjA9tVhJNDK-U96t2FlDpGth4O8AanYl8kuPyQWCv88dt9ysAmjgAFBrATb-qrhtsBdoe7XaZJ/s320/5985498.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A lagoa de sombrio, a lagoa de sombrio, corre que desaparece ai, ai...</td></tr>
</tbody></table><br />
Ela, sempre silenciosa, fazia com que as vozes que soavam longe tivesemm seus vultos a umas braças de distância e o ronco do Tarrã parecesse sempre mais distante.<br />
<br />
<span id="goog_449979923"></span><span id="goog_449979924"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKLElCPUB15giM_-5GQr1w40UtBo6kuMI1Z2DLl-DCmyYaS3uQe8YqQDkdp5607QISAXugYVAlsPSRskiU5ajP3eY1JTt_EhpMQsh5HHX2ySgb2VTWV5N7iWk3TikReVc5t-_xAGePdyVy/s1600/4363488996_c2e0a04b42.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKLElCPUB15giM_-5GQr1w40UtBo6kuMI1Z2DLl-DCmyYaS3uQe8YqQDkdp5607QISAXugYVAlsPSRskiU5ajP3eY1JTt_EhpMQsh5HHX2ySgb2VTWV5N7iWk3TikReVc5t-_xAGePdyVy/s320/4363488996_c2e0a04b42.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pus o meu sonho num navio<br />
e o navio em cima do mar;<br />
- depois, abri o mar com as mãos,<br />
para o meu sonho naufragar</td></tr>
</tbody></table><br />
Ele, sempre presente, tinham como que suas ondas rolando no pátio de casa, quanto mais se aproximava mais ficava salgado o cheiro do ar.<br />
<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipPbmRcpHw2JjHGr3cz8xdCf3praIO__OY_sRgtAMISRdGKMzga__9qHKyAC2-BUgvFK6Mfv8_XEe0cBeEsnFXR7ZRjrflbkeugo3LRrRsh5kBgTkYEEifuXwWsixH13wR-TfbSWygWS8B/s1600/P7190117.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipPbmRcpHw2JjHGr3cz8xdCf3praIO__OY_sRgtAMISRdGKMzga__9qHKyAC2-BUgvFK6Mfv8_XEe0cBeEsnFXR7ZRjrflbkeugo3LRrRsh5kBgTkYEEifuXwWsixH13wR-TfbSWygWS8B/s320/P7190117.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Como uma curva de caminho.<br />
Anônima,<br />
Torna-se às vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo! </td></tr>
</tbody></table> E o chão, a terra, a estrada, a poeira, com tudo que encerram: origem, essência, posse, sobrevivência, destino, ida-volta, fuga e reencontro, o moldaram.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-11353214895236723502010-10-18T19:49:00.003-02:002010-10-18T19:55:05.737-02:00Uma payada<table border="0"><tbody>
<tr><td width="80%"><span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: medium;">O Sonho do Carreteiro</span> <a href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=7985050457604788084&postID=1135321489523672350" name="topo"></a> </td> <td width="10%"></td> </tr>
<tr> <td valign="TOP" width="70%"><div align="LEFT"><span style="font-size: x-small;"> <i><span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">Luiz Menezes</span><br />
<br />
</i></span> </div><span style="font-size: x-small;"> <span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: small;">Carreteou anos a fio.<br />
Conhecia palmo a palmo<br />
as estradas da querência;<br />
Sabia onde dava passo<br />
- no tempo das enxurradas -<br />
aquele arroio sotreta<br />
cemitério de carreta<br />
disfarçado em água mansa<br />
Vira nascer muitos ranchos<br />
nesse corredor sem fim.<br />
<br />
Sabia que na picada<br />
logo depois do lagoão,<br />
o umbu do enforcado<br />
dera lenda prás estórias<br />
dos bolichos, das ramadas.<br />
<br />
Sabia bem todo o causo<br />
da tapera do repecho:<br />
A maula traíra o guasca<br />
e este sem dó nem piedade,<br />
cortara junta por junta<br />
o belo corpo moreno<br />
daquela indiazinha louca<br />
que se engraçara num piá ...<br />
<br />
Mas além, no Passo-feio<br />
vira morrer um tal Juca.<br />
Eram três contra o rapaz.<br />
E como morrerra lindo<br />
aquele guasca sem medo ...<br />
A estória ficou em segredo<br />
pois diz que o tal de mandante<br />
era mui relacionado,<br />
e até contraparente<br />
de um graudaço do povo.<br />
<br />
Conhecia palmo a palmo<br />
as estradas da querência,<br />
sempre fora carreteiro.<br />
Envelhecera na lida<br />
sem conhecer outra vida<br />
sem ter outra ocupação.<br />
Tinha por seu ganha-pão<br />
a velha carreta amiga<br />
companheira de cantiga<br />
daquele piazinho vivo<br />
que era, alegria e motivo<br />
de seu final de existência.<br />
<br />
Pois ficaram bem solitos<br />
mais amigos do que antes<br />
des’que a finada se fora ...<br />
Por isso sempre de noite<br />
a meia luz do candieiro<br />
ficava horas inteiras<br />
mostrando prá seu piazinho<br />
as letras do ABC.<br />
<br />
E o piá com muita memória<br />
decorava uma por uma<br />
as letras que galopeava,<br />
ou por outra, engarupava<br />
nas palavras do jornal.<br />
Como era esperto o guri:<br />
Foi duas, três paletadas<br />
já sabia mais que o pai ...<br />
E foi numa dessas noites<br />
que o velho e bom carreteiro<br />
teve um sonho de repente.<br />
E quasi num gesto louco<br />
gritou prás quatro paredes<br />
enfumaçadas do rancho:<br />
Meu filho há de ser doutor!<br />
Não há de ser carreteiro,<br />
pois estas mãos calejadas<br />
do peso-bruto, da enxada,<br />
hão de sangrar no trabalho<br />
prá que este piazinho feio<br />
viva melhor do que eu ...<br />
<br />
Pura e santa ingenuidade!<br />
O arroio-sociedade<br />
prá o pobre nunca dá vau!!<br />
No outro dia cedinho<br />
enveredou para o povo ...<br />
<br />
Voltava a velha carreta<br />
A resmungar nas estradas<br />
na viajada da esperança<br />
carregadinha de sonhos.<br />
E o pobre e bom carreteiro<br />
ia falando de tudo<br />
com seu piazinho faceiro<br />
dentro da bombacha nova.<br />
<br />
Não esquecia de nada<br />
nos seus conselhos de pai:<br />
Se lá no povo à tardinha<br />
o piá sentisse saudade,<br />
bombeasse prá o horizonte,<br />
que alguém solito decerto<br />
meio tristonho é verdade,<br />
mateando assim com saudade<br />
estaria a lhe esperar ...<br />
<br />
Que importa se demorasse,<br />
pois nunca ouvira dizer<br />
que a tal saudade matasse.<br />
Mas nesse dia por certo<br />
Quando voltasse doutor<br />
tudo havia de mudar.<br />
Até o céu com certeza<br />
morada das almas puras<br />
ouviria com ternura<br />
uma indiazinha chorar.<br />
<br />
E as estradas da querência<br />
que conhecia demais,<br />
lhe viram passar feliz<br />
com novo brilho no olhar.<br />
<br />
Mas lá no povo - cuê-puxa! -<br />
Bateu em todas as portas<br />
clamou por todos os santos<br />
recorreu todos os amigos<br />
- muitos dos quais ajudara -<br />
andou quase mendigando,<br />
Prá dar escola pra o filho<br />
mas ninguém quis lhe escutar ...<br />
E a esperança foi mermando<br />
foi mermando ... e se apagou.<br />
<br />
Botou a carreta na estrada<br />
o Piazinho dentro dela<br />
tocou de volta outra vez.<br />
A noite então já chegara.<br />
Naquela enrugada cara<br />
de gigante das estradas<br />
uma lágrima teimosa<br />
veio molhar-lhe o nariz ...<br />
<br />
Olhou o filho com carinho,<br />
mas com muito mais carinho<br />
Com mais amor do que antes<br />
e uma queixa derramou:<br />
Quem nasce lutando busca<br />
a morte por liberdade!<br />
<br />
Mentira! A tal de igualdade<br />
não existe por aqui ...<br />
Que adianta se amar aos outros<br />
se os outros não dão amor?<br />
Pega a picana, piazinho<br />
e acorda esse boi manheiro,<br />
pois filho de carreteiro<br />
nunca pode ser doutor!!</span> <br />
</span> </td> <td valign="top" width="20%"><br />
</td> </tr>
</tbody></table>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-57668295953976173442010-09-06T21:11:00.002-03:002010-10-18T19:54:12.033-02:00Dorival, Tom e meu mano Marcelo<span style="font-family: inherit;">É</span> que hoje é aniversário do Marcelinho, ou Maccelo(assim com entonação italiana), ou bem lá atrás Cecéu, ou Papai Macelo como diz a Clarinha, ou Mano. E fica aqui meu beijo com saudade e o desejo de muitas felicidades, que por teu jeito de ser é encontrada nas coisas mais simples, oque é muito bom.<br />
E já que esbarrei com esta coisa fantástica que é <a href="http://www.youtube.com/watch?v=pB9cZNXcqcA&feature=player_embedded">Tom e Caymmi</a>, vai aqui também.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-7470223562025775102010-08-04T21:40:00.000-03:002010-08-04T21:40:41.796-03:00CrônicaSia Rosaura tirava a dentadura para comer<br />
Por isso ela tinha o sorriso postiço mais sincero da minha rua<br />
Dona Maruca fazia uns biscoitinhos minúsculos, estalantes e secos, chamados mentirinhas<br />
Eduviges era pálida e lia romances lacrimosos de Perez Escrich<br />
Tanto suspirou em cima deles que acabou fugindo com um caixeiro viajante<br />
O tempo se desenrolava como um rio por entre as casas de porta e janela<br />
Pequenas vidas<br />
Pequenos sonhos<br />
Na noite imensa as estrelas eram como girândolas brancas que houvessem parado<br />
Sentados à porta<br />
- dois santos, dois mágicos, dois sábios –<br />
meu velho Tio Libório e o velho farmacêutico<br />
propunham-se e compunham charadas<br />
que depois orgulhosamente remetiam sob nomes supostos<br />
para o grande anuário estatístico recreativo e literário da capital do Estado<br />
<div style="text-align: right;"><i>Mario Quintana </i></div>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-70772136936681568922010-07-05T14:10:00.000-03:002010-07-05T14:10:59.827-03:00Para viver um grande amor,...primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor...<br />
<br />
...Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor...<br />
<br />
...Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?...El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-85996986140521465022010-06-18T17:17:00.001-03:002010-06-19T14:49:11.926-03:00José Saramago, um sobrevivente num tempo de mudanças.Estávamos almoçando quando em uma chamada de noticiário ouvi sobre a morte do Saramago. Duas ou três mesas pararam, garfos suspensos. Ela arregalou aqueles olhos grandes e lindos, faz pouco perdeu uma artista a qual gostava muito e que a influencia em seus trabalhos. Eu fiquei triste.<br />
O primeiro livro que conheci do Saramago não lembro o nome, não li todo e não sei do que se trata. Não tinha ponto final no livro, nem vígula nada. Sei que usava de um truque em descrições e que estão em outras obras também. Percebi que ali estava alguém que merecia ser lido.<br />
'Jangada de Pedra' veio até mim com seu desabafo de como a Ibérica é outra Europa, de como está a deriva naquele continente. Em 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo' encontrei meu Jesus. Aquele que vale a pena ser imitado. Um ser humano com seus medos e incertezas, e desejos e alegrias. Cujo primeiro milagre foi um ode a alegria. <br />
'Todos os Nomes' é fantástico, e como bem percebeu o meu amigo Gibras, uma história que a princípio não se dá grande valor e que se torna um prazer. Caim é recontado primorosamente, Saramago levava a mesma marca!? <br />
'Ensaio Sobre a Cegueira' rendeu um filme bom e é uma obra prima por tudo. Pela história, pela parábola que é, pela escrita. E por tudo que vai render de desdobramento em torno e dentro de si.<br />
<br />
Saramago falando é um vinho de tão bom. Com seu pessimismo, ateísmo, comunismo e todos os <i>ismos</i> que uma pessoa do seu quilate é rotulada, choca, ofende, incomoda, hipnotiza e faz pensar. <br />
O mesmo homem que com firmeza diz "Aqui na Terra a fome continua, / A miséria, o luto, e outra vez a fome." e compara Israel a um novo Golias, se despede de Cuba com "Cheguei até aqui. De agora em diante, Cuba seguirá seu cainho e eu fico.", enternece com sua saudade da infância pobre.<br />
Uma pena, acredito que deixou coisas por serem ditas...El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-49328094999716432422010-06-15T15:14:00.002-03:002010-06-15T15:16:24.598-03:00Torero<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8PvxpeTIzjMbdcMJl7JHQWu36woVM4oT3ofekdGxOI_8ytMKc1PwtH3R-agahhp8MG7KoBCgTpUn2gAXm8EveXRVI8llZXVja7IJJzCH0a4F1rI6Jdhy6_UkU7d_YhF4OCRIO-gEtP58d/s1600/12_pp403~_pablo-picasso_der-stierkampf.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 257px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8PvxpeTIzjMbdcMJl7JHQWu36woVM4oT3ofekdGxOI_8ytMKc1PwtH3R-agahhp8MG7KoBCgTpUn2gAXm8EveXRVI8llZXVja7IJJzCH0a4F1rI6Jdhy6_UkU7d_YhF4OCRIO-gEtP58d/s320/12_pp403~_pablo-picasso_der-stierkampf.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5483065768776435570" /></a><br /><span style="font-weight:bold;">'Seu coração estava aberto em dois como um livro.'</span>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-34078006408541420312010-05-28T11:08:00.006-03:002010-05-28T18:39:12.487-03:00Clarinha<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPk5QN0GY0BkZETdzBHKO5qudHj8IwZd9RZRh8MmnXHJYtjrXuoYE91PQs8l2x5dvuYPEwEA_xhAVgAAnqqJhOWOtBLS1ISnY2IAgtQcvz8LnIuK9QZn5s5waZIxzkSuBJwAZ9jax_AvZv/s1600/clarinha.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 214px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPk5QN0GY0BkZETdzBHKO5qudHj8IwZd9RZRh8MmnXHJYtjrXuoYE91PQs8l2x5dvuYPEwEA_xhAVgAAnqqJhOWOtBLS1ISnY2IAgtQcvz8LnIuK9QZn5s5waZIxzkSuBJwAZ9jax_AvZv/s320/clarinha.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5476322832413252354" /></a><span style="font-style:italic;">Padrinho, Clarinha e suas vaquinhas ao fundo.</span><br /><br />Ela não veio me visitar porque teria que ajudar o 'Papai Macelo' no sítio, e ainda disse que '...o padinho parece um urso.'.<br />Desaforada.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-16167648571952077672010-05-13T18:16:00.005-03:002010-05-13T21:26:42.624-03:00Uma vaca e seus berbigão.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgehRpcyuUyYTvCUjadhzSQ0Fam3k-5yd6L-MAdkfjd9oHRST8y-bEEL-CADq1Oo6Q-P0DbD58_JezcC4BiTUWZQ5z12ZAG8JXS-Gv8_LdA24Ds-S3jNg-b8-At3PAOAu69AyT6pCCobmP8/s1600/280px-Jersey_cattle_in_Jersey.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgehRpcyuUyYTvCUjadhzSQ0Fam3k-5yd6L-MAdkfjd9oHRST8y-bEEL-CADq1Oo6Q-P0DbD58_JezcC4BiTUWZQ5z12ZAG8JXS-Gv8_LdA24Ds-S3jNg-b8-At3PAOAu69AyT6pCCobmP8/s320/280px-Jersey_cattle_in_Jersey.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5470864433789385682" /></a><br />Fiz uma experiência banal por estas noites e o resultado se não proveitoso foi deveras inusitado.(<span style="font-style:italic;">Início a la E. A. Poe).</span><br />Sempre leio antes de dormir, quando vem o sono ponho o livro ao meu lado na cama. Desta vez além de óculos e livro havia lápis e papel.<br />A intenção era começar a anotar meus sonhos. <span style="font-style:italic;">(Aqui o texto está ficando igual um Castañeda, que horror).</span><br />Assim como todo o mundo, já quis me lembrar oque havia sonhado na noite anterior e não havia conseguido. Ou então acordando na madrugada, o sonho era algo interessante, e pela manhã não havia sobrado nada na memória.<br />Meu sono, antes agitado, já faz algum tempo está bem melhor, portanto algumas noites se passaram sem os pesadelos outrora tão comuns só acordando com o despertador tocando o CD da vez.<br />Mas noite passada aconteceu: <br />Uma vaca, mas não estas vacas de filme, malhadinhas, gordas; era uma vaca de verdade, das que vi nascerem e morrerem e parirem, bezerros e bezerros e bezerros. Pela sua boca um tanto torta identifiquei uma usuária, quando bezerra e talvez até já novilha, das chamadas 'tabuletas', instrumento que quando afixado nas ventas do animal serve para impedi-la de mamar quando isto se torna assim necessário. (Se eu soubesse mexer em photoshop faria uma montagem com uma série de políticos comumente envolvidos em maracutaias, super-faturamentos e tale coisa com a dita tabuleta fincada em suas narinas, seria um medida para evitar que continuem mamando na gordas tetas). <br />Esta vaca apareceu em minha frente calma, serena, bovina, ruminando, baba escorrendo como de praxe, olhos redondos e enormes e eu me via neles. Só aí entrei no sonho. Eu estava em uma chácara, o tempo era fresco, o dia claro e nada haveria de extraordinário se a mimosa não houvesse me pedido com a voz e trejeitos de boca do Boris Casoy com sotaque ilhéu 'Um quilo de berbigão...' da próxima vez que eu ali voltasse '...pra fazer uns pastel.).El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-51174354367832950242010-04-22T21:56:00.001-03:002010-04-22T21:56:41.734-03:00CerraçãoEis que eis do céu de novo ficar cinza, da chuva outra vez não cessar, do vento dar um jeito de se enfiar casa adentro sabe-se lá por que frestas e do peito apertar sob o peso de cem toneladas de desilusão.<br />Com o sol a pino fica mais fácil desviar os olhos da navalha de barbear, a mesma que atormentou Harry Heller, com a diferença de que a sua sombra me surge duas décadas antes do que a idade do Lobo.<br />Como Cortázar, os anos de minha infância passaram envoltos em bruma, daí talvez me venha esta umidade impregnante de banco de jardim, e desde muito cedo não retive atenção ou afeto sobre ninguém, nada era pessoal, ou personalizado. Entendia que a vida seguia o trilho, indiferente, imútavel, e que a nós, insetos deste circo de pulgas, exilados em savanas, pampas e tundras, cabia enfrentar o mais terrível deserto, que é oque existe dentro de nós mesmos.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-67751573996070688512010-04-01T18:23:00.003-03:002010-04-01T18:26:37.354-03:00l'amour entre deux tortues... doucement e toujours...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoD7ZSVw6q3VERSV5Ufo0f4hKH-rweUwXH9SjTm3Ngs0J8VD8hhyYbjzXC4C9KZlBxasvgKTWCCWjuDucncs8sQh8yPAm4LE2jVjjdY7kyr4KinhCWmcuhyphenhyphencYY8KQekAkE1bp4xuHV1cys/s1600/ju+tatuga.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoD7ZSVw6q3VERSV5Ufo0f4hKH-rweUwXH9SjTm3Ngs0J8VD8hhyYbjzXC4C9KZlBxasvgKTWCCWjuDucncs8sQh8yPAm4LE2jVjjdY7kyr4KinhCWmcuhyphenhyphencYY8KQekAkE1bp4xuHV1cys/s320/ju+tatuga.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5455282930151512274" /></a><br /><br />Com o tempo...<br /><br />...andando bem a seu jeito, Devagar e Sempre,eles se encontraram, agora sim, de fato, frente a frente. <br />Pois que apesar de ser indelével e contínuo, com a sua linearidade já posta por terra, seja por físicos, filósofos ou esta outra casta que tanto conta estrela quanto grão de areia, os escritores, outros encontros, de viés, como que esbarrões, meio de lado(o sorriso com o mais puro azul dos olhos-entre um ônibus e outro) já haviam se dado.<br />De uma feita, a mesma poça, levara os dois a um salto bem parecido, coincidência que caso voltasse a repetir-se de outras formas acabaria por tirar o plausível da história não nos tivesse já acostumados com o absurdo, companheiro contumaz de nossa estada.<br /> A primeira luz da lua após as três noites escuras de um ciclo lunar que seria como outro qualquer, desde que o satélite de nós se desprendera, também escolhera desenhar a silhueta dos vêrtices desta história, cada um em seu mundo, cada qual em seu chão.<br />Em uma praça enquanto ele arrancava cabeças de formiga, empinava pipa, subia-descia no escorrega e chutava bola, ela passeava de mãos dadas já que o tempo para um corria enquanto para o outro se espreguiçava para passar. <br />Quando deu-se o choque do encontro na fronteira das elipses de seus mundos, um vento negro soprava de rastros no chão e com uma lufada capaz de arrancar um baobá pelas raízes ergueu-a até o infinito deixando para trás somente o cheiro de pitanga que ele desde criança sentia não sabia de onde.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-66803986120467129822010-03-31T20:40:00.004-03:002010-03-31T21:02:06.116-03:00Fabulações Reminiscentes<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZOv6_reAXnDYVw_bAWncqvDWiUk28l2zT_8ameI0Ru3VZdigG-jOTXJTjui6htut991-JcYKDNHyx8BJykp8A1eNKHzxMl9YoNzwZMAur9N8JkZ00BGPQ-_pEUQzyDxKe1ArFxfA89NsT/s1600/convite2+.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZOv6_reAXnDYVw_bAWncqvDWiUk28l2zT_8ameI0Ru3VZdigG-jOTXJTjui6htut991-JcYKDNHyx8BJykp8A1eNKHzxMl9YoNzwZMAur9N8JkZ00BGPQ-_pEUQzyDxKe1ArFxfA89NsT/s320/convite2+.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5454947429206328658" /></a><br /><br />A exposição consiste em cinco obras, fotografia e vídeo, que remetem à memória da artista, sendo que cada uma delas leva um texto de cinco convidados que cumprem o papel de interlocutores de fabulações, presentes tanto na obra quanto no texto.<br /><br />Diz Ju Crispe:<br />"A idéia é abordar o universo dos mundos reais e ficcionais a partir da vivência de lembranças. A liberdade dada aos escritores para a criação do texto possibilitou a construção de uma rede de colaboração e de olhares diversificados, tanto na relação texto-obra, escritor-artista, quanto na relação obra-espectador",<br /><br />A moça é formada em Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Santa Catarina, participa de exposições desde 2003, é mestranda na mesma universidade com pesquisas relacionadas à memória e tem experiência em mediação de exposições, entende pacas de arte-educação e foi professora.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-89905756123741338312010-03-25T13:41:00.002-03:002010-03-25T13:41:41.484-03:00Sá, Rodrix e Guarabyra<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuDT-YBOOFL3dpIf5q0j7sC8g091YdKeI3C_tV2I7yx5-ASztmmeTV-rY9rI5u90oZKxe_wu7KU5EeQbblN0okzofq9Vss8MfLgEb1GczjkY17EQexak4-PfB2-TplO7XfLvW9-FR77hYF/s1600/S%C3%A1+Rodrix+e+Guarabira+P.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 319px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuDT-YBOOFL3dpIf5q0j7sC8g091YdKeI3C_tV2I7yx5-ASztmmeTV-rY9rI5u90oZKxe_wu7KU5EeQbblN0okzofq9Vss8MfLgEb1GczjkY17EQexak4-PfB2-TplO7XfLvW9-FR77hYF/s320/S%C3%A1+Rodrix+e+Guarabira+P.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452612540528390130" /></a><br />Jesus Numa Moto<br /><br />Preso nessa cela<br />De ossos, carne e sangue<br />Dando ordens a quem não sabe<br />Obedecendo a quem tem<br /><br />Só espero a hora<br />Nem que o mundo estanque<br />Prá me aproveitar do conforto<br />De não ser mais ninguém<br /><br />Eu vou virar a própria mesa<br />Quero uivar numa nova alcatéia<br />Vou meter um "Marlon Brando" nas idéias<br />E sair por aí<br /><br />Prá ser Jesus numa moto<br />Che Guevara dos acostamentos<br />Bob Dylan numa antiga foto<br />Classius Clay antes dos tratamentos<br />John Lennon de outras estradas<br />Easy Rider, dúvida e eclipse<br />São Tomé das letras apagadas<br />E Arcanjo Gabriel sem apocalipse<br /><br />Nada no passado<br />Tudo no futuro<br />Espalhando o que já está morto<br />Pro que é vivo crescer<br /><br />Sob a luz da lua<br />Mesmo com sol claro<br />Não importa o preço que eu pague<br />O meu negócio é viver<br /><br />Sob a luz da lua...<br />Mesmo com sol claro...<br />Preso nesta cela...El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-69405220974634099722010-02-22T15:30:00.004-03:002010-02-22T15:42:25.763-03:00Dalton Trevisan<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf9bQO2GS_R82foX3-rjnqZFTX_k0KKL_gmWRPsJSGZWCBtQ97RdVXpMHel3paJ6I5QDS0sAY-TIt8mFPZaVgNRWsV5FENuw8Pv4_t9DwTLpsJh5pHvXMZnU4oYSemuOGoJQBbDMsfo8DX/s1600-h/dalton+trevisan.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 238px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf9bQO2GS_R82foX3-rjnqZFTX_k0KKL_gmWRPsJSGZWCBtQ97RdVXpMHel3paJ6I5QDS0sAY-TIt8mFPZaVgNRWsV5FENuw8Pv4_t9DwTLpsJh5pHvXMZnU4oYSemuOGoJQBbDMsfo8DX/s320/dalton+trevisan.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5441139534244601810" /></a><br />Curitibano e arredio. Não gosta de entrevistas, não dá entrevista e nem se deixa fotografar. O conto abaixo foi publicado aqui sem qualquer permissão, se ele achar ruim que apareça...<br />É dele também a célebre frase sobre Curitiba: 'Cinqüenta metros quadrados de verde por pessoa de que te servem se uma em duas vale por três chatos?'El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-30052469195940137722010-02-22T15:25:00.003-03:002010-02-22T15:41:05.682-03:00Segunda lhe Conto...<span style="font-weight:bold;">Uma Vela para Dario</span><br /><br />Dalton Trevisan<br /><br />Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.<br /><br />Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.<br /><br />Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.<br /><br />Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.<br /><br />A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.<br /><br />Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.<br /><br />Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.<br /><br />Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.<br /><br />Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.<br /><br />O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.<br /><br />A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.<br /><br />Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.<br /><br />Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.<br /><br />Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.<br /><br /><span style="font-style:italic;">Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 20.</span>El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-649987457112293742010-02-06T14:02:00.003-02:002010-02-06T14:31:17.300-02:00Aforismos...'Jorge Vercilo, para mim, é como manga com leite, tenho a nítida impressão que vai me fazer mal'<br /><br /> "Jorge Vercilo, pour moi, est mange manche avec lait, ai la claire impression qui va me faire mal"<br /><br />EL TORERO, L.B. <span style="font-style:italic;">"Parlant mal des autres et aphorismes"</span>. Painel: Leão Baio,2003El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-59595920887872403132010-02-02T21:29:00.004-02:002010-02-02T22:18:18.322-02:00Dia de JanaínaCanto de Iemanjá<br />(Baden Powell e Vinícius de Moraes)<br /><br />Iemanjá, Iemanjá<br />Iemanjá é dona Janaína que vem<br />Iemanjá, Iemanjá<br />Iemanjá é muita tristeza que vem<br /><br />Vem do luar no céu<br />Vem do luar<br />No mar coberto de flor, meu bem<br />De Iemanjá<br />De Iemanjá a cantar o amor<br />E a se mirar<br />Na lua triste no céu, meu bem<br />Triste no mar<br /><br />Se você quiser amar<br />Se você quiser amor<br />Vem comigo a Salvador<br />Para ouvir Iemanjá<br /><br />A cantar, na maré que vai<br />E na maré que vem<br />Do fim, mais do fim, do mar<br />Bem mais além<br />Bem mais além do que o fim do mar<br />Bem mais alémEl Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-32344491248990280352009-12-23T21:42:00.000-02:002009-12-23T21:43:18.959-02:00Poema de NatalVinicius de Moraes<br /><br /> Para isso fomos feitos:<br /> Para lembrar e ser lembrados<br /> Para chorar e fazer chorar<br /> Para enterrar os nossos mortos —<br /> Por isso temos braços longos para os adeuses<br /> Mãos para colher o que foi dado<br /> Dedos para cavar a terra.<br /> Assim será nossa vida:<br /> Uma tarde sempre a esquecer<br /> Uma estrela a se apagar na treva<br /> Um caminho entre dois túmulos —<br /> Por isso precisamos velar<br /> Falar baixo, pisar leve, ver<br /> A noite dormir em silêncio.<br /> Não há muito o que dizer:<br /> Uma canção sobre um berço<br /> Um verso, talvez de amor<br /> Uma prece por quem se vai —<br /> Mas que essa hora não esqueça<br /> E por ela os nossos corações<br /> Se deixem, graves e simples.<br /> Pois para isso fomos feitos:<br /> Para a esperança no milagre<br /> Para a participação da poesia<br /> Para ver a face da morte —<br /> De repente nunca mais esperaremos...<br /> Hoje a noite é jovem; da morte, apenas<br /> Nascemos, imensamente.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7985050457604788084.post-83484643072292703312009-12-15T16:06:00.005-02:002009-12-15T17:02:25.567-02:00Se indo, foice...Daqui de cima eu via ele chegar meio de lado, se ladeando. Beiço caído, cabeça em pêndulo rotativo sobre o pescoço magro, queixo agudo quase que roçando o peito.<br />-Tá quente, hein? Porra!-ou frio, conforme.<br />Mais de perto, o cabelo ralo e fino, o casco da cabeça manchado de sol e caspa. <br />Pegava, pagava oque fosse e se ia.<br />Assim se foi.El Torerohttp://www.blogger.com/profile/06944885634849839998noreply@blogger.com3