quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cerração

Eis que eis do céu de novo ficar cinza, da chuva outra vez não cessar, do vento dar um jeito de se enfiar casa adentro sabe-se lá por que frestas e do peito apertar sob o peso de cem toneladas de desilusão.
Com o sol a pino fica mais fácil desviar os olhos da navalha de barbear, a mesma que atormentou Harry Heller, com a diferença de que a sua sombra me surge duas décadas antes do que a idade do Lobo.
Como Cortázar, os anos de minha infância passaram envoltos em bruma, daí talvez me venha esta umidade impregnante de banco de jardim, e desde muito cedo não retive atenção ou afeto sobre ninguém, nada era pessoal, ou personalizado. Entendia que a vida seguia o trilho, indiferente, imútavel, e que a nós, insetos deste circo de pulgas, exilados em savanas, pampas e tundras, cabia enfrentar o mais terrível deserto, que é oque existe dentro de nós mesmos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

l'amour entre deux tortues... doucement e toujours...



Com o tempo...

...andando bem a seu jeito, Devagar e Sempre,eles se encontraram, agora sim, de fato, frente a frente.
Pois que apesar de ser indelével e contínuo, com a sua linearidade já posta por terra, seja por físicos, filósofos ou esta outra casta que tanto conta estrela quanto grão de areia, os escritores, outros encontros, de viés, como que esbarrões, meio de lado(o sorriso com o mais puro azul dos olhos-entre um ônibus e outro) já haviam se dado.
De uma feita, a mesma poça, levara os dois a um salto bem parecido, coincidência que caso voltasse a repetir-se de outras formas acabaria por tirar o plausível da história não nos tivesse já acostumados com o absurdo, companheiro contumaz de nossa estada.
A primeira luz da lua após as três noites escuras de um ciclo lunar que seria como outro qualquer, desde que o satélite de nós se desprendera, também escolhera desenhar a silhueta dos vêrtices desta história, cada um em seu mundo, cada qual em seu chão.
Em uma praça enquanto ele arrancava cabeças de formiga, empinava pipa, subia-descia no escorrega e chutava bola, ela passeava de mãos dadas já que o tempo para um corria enquanto para o outro se espreguiçava para passar.
Quando deu-se o choque do encontro na fronteira das elipses de seus mundos, um vento negro soprava de rastros no chão e com uma lufada capaz de arrancar um baobá pelas raízes ergueu-a até o infinito deixando para trás somente o cheiro de pitanga que ele desde criança sentia não sabia de onde.