sábado, 13 de dezembro de 2008

O Retrato.

-Teu avô?
Ela me perguntou, defronte à fotografia amarelada e meio carcomida nos cantos que fica na estante da sala, próxima ao cinzeiro que veio de machu-pichu e da bernunça de barro com sua bocarra aberta.
Sempre gostei de ouvir e contar histórias, muitos dizem que minhas mentiras vão muito bem até certo ponto e que depois descambam para o absurdo. É que a intenção é de brincar com a realidade e não apenas e simplesmente mentir.
-Não...-pronto, era a verdade, mas a maneira que eu falei e torci os beiços dava margem para esperar mais alguma coisa.

Ela gostava de histórias, foi oque me disse no barzinho, no ínicio da noite.

-Tu ainda fumas narguilé!?-e sentou-se na minha frente deixando cair um cacho de cabelos no rosto.-o pega rapaz é o mais antigo dos artifícios, penso eu.
-Ás vezes-e o meu melhor sorriso, aquele tímido-cafageste-intelectual que na frente do espelho fica muito bom. E a cuca fervendo para lembrar de onde a conhecia.
-Da casa de L.. Disse ela. E sorriu.
Eram perfeitos, mas prefiro os que não passaram pelo ortodontistas, assim como não curto silicone. Purismo apenas, impedimento para absolutamente nada-deixo dito.
-Claro que me lembro, ora!-de fato me recordava-como ia esquecer!-mais sorriso. E a conversa mole começou
Tu sozinho aqui; Tu também estás; acende cigarro, acende o dela, batem os copos de chopp-nunca gostei de brindar mas mulher adora.
-Como era mesmo aquela história? Que contaste enquanto fumavas o narguilé lá na casa da L...
Era um trecho de um livro do Castañeda, falava sobre procura e poder.
-Sabe mais alguma?-falou, enquanto bebia o chopp e me olhava por sobre o copo.
E foi assim que acabou em frente a minha estante, perguntado sobre a foto antiga de um respeitável senhor de bigode fino e roupa do ínicio do século e que comprei por R$2,25 em uma feirinha hippie.

continua...

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